As eleições de 2024 no Brasil foram marcadas por um cenário preocupante em relação à diversidade e inclusão, o que expõe as fragilidades da nossa democracia que para ser de verdade tem que ser também representativa, incluindo todas as camadas que formam o povo brasileiro em raça, gênero e cor.
Embora seja crescente a discussão sobre a importância da diversidade e inclusão nas áreas do trabalho, meio corporativo a até nos conselhos das corporações, o que observamos na esfera política é a persistência de desigualdades históricas e estruturais. Em um país tão plural como o Brasil, a escassez de diversidade nos cargos eletivos é uma questão que merece reflexão e também ação.
Um dos aspectos mais alarmantes das eleições foi a ausência de prefeitos negros nas capitais brasileiras. Esse cenário não é apenas reflexo de uma escolha política, mas um indicativo de uma sociedade que ainda luta para superar os resquícios do racismo histórico e estrutural. A falta de líderes negros em posições de destaque reforça a ideia de que a política ainda é um espaço predominantemente branco, onde as vozes e as experiências de uma parte significativa da população são silenciadas e não levadas em conta.
A representatividade negra nas esferas de poder é fundamental não apenas para garantir que as demandas e necessidades dessa população sejam ouvidas, mas também para inspirar futuras gerações a se engajar na política. A ausência de figuras negras em cargos de liderança perpetua estigmas e limita a construção de uma sociedade mais igualitária. Além da questão racial, as eleições de 2024 evidenciaram a sub-representação das mulheres nos cargos eletivos, algo ressaltado no domingo pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Superior Tribunal Eleitoral.
Em um contexto no qual as mulheres representam mais da metade da população, a sua presença em posições de poder ainda é insuficiente. Mesmo nas maiores cidades, onde a expectativa era de uma maior diversidade de candidaturas, o que se viu foi uma continuidade do domínio masculino. No último domingo o Brasil elegeu 724 prefeitas, um avanço de dez por cento a mais que nas últimas eleições, mas elas ainda representam apenas 13% dos que vão comandar prefeituras a partir de 2025. A falta de mulheres na política não é apenas uma questão de equidade, mas também de afirmação de um regime verdadeiramente democrático e eficaz.
Pesquisas mostram que a inclusão de mulheres na política resulta em decisões mais representativas e sensíveis às questões de gênero, saúde, educação. Portanto, a sub-representação feminina não só marginaliza as vozes femininas como empobrece o debate político e as políticas públicas.
Outro ponto preocupante nas eleições de 2024 foi o avanço de vereadores e prefeitos conservadores, que muitas vezes se opõem à diversidade e aos direitos humanos. Esse fenômeno pode ser interpretado como um retrocesso nas conquistas sociais e uma ameaça à inclusão.
A ascensão de pautas conservadoras pode levar a políticas que ignorem a importância da diversidade e da inclusão, agravando ainda mais as desigualdades existentes. Diante desse cenário desafiador, são imprescindíveis uma profunda reflexão e muitas ações que envolvam não apenas a criação de políticas que incentivem a participação de grupos sub-representados mas também promovam a conscientização sobre a importância da diversidade como um valor fundamental para a democracia.
Promover a diversidade em espaços de poder vai além de uma questão de justiça social; é um investimento no futuro do país. A pluralidade de vozes e experiências enriquece o debate e resulta em políticas mais justas e eficazes para todos. É hora de romper com as barreiras que limitam a participação de grupos historicamente marginalizados e de construir um cenário político que reflita a verdadeira essência do Brasil: um país diverso, vibrante e plural.
[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/