Esse texto é pra você que não foi afetado diretamente pela chuva no Rio Grande do Sul – até porque seria muito ridículo eu, aqui do sofá da minha casa, escrever algo sobre uma situação que eu não tô vivendo. Do lado de cá, a gente não faz ideia do tamanho do problema. Existem, claro, as notícias, fotos e vídeos, mas é impossível imaginar o que significa perder absolutamente tudo. De um dia pro outro.E é isso que faz a gente se sentir tão pequeno nesse momento. Como eu posso ajudar? Será que é suficiente? Eu sei que parece que tudo é muito pouco perto do que é necessário pra reconstruir o que a chuva destruiu e pra preencher o vazio que ficou. E sei também que vem um sentimento de culpa por “estar bem”. Ou por continuar a vida. Trabalhar, sair com os amigos, se divertir. Não sei você, mas eu passei uns bons dias me sentindo péssima por isso. Insignificante. Tudo parecia supérfluo, sem sentido nenhum. Leia mais Há quem diga que “ninguém deve se sentir assim” e eu até entendo esse ponto de vista. Mas parte de mim acha importante que a gente, sim, se sinta assim um pouco. Não a ponto de parar a nossa vida, mas a ponto de entender o nosso lugar de privilégio no mundo. Pode ir no cinema e sair pra jantar, claro, mas não seja uma pessoa alienada para o que tá acontecendo à sua volta. Agora não é com você diretamente, mas pode ser um dia.Isso vale não só pra tragédia no RS, é bom lembrar. A gente fala tanto sobre empatia, palavrinha cheia de significado, mas será que ela existe na prática em outras situações do nosso dia a dia ou só quando algo grande desse jeito acontece? Tudo tem que incomodar, não só o que tá na TV. A gente se preocupa em doar uma blusa de frio pra quem perdeu tudo na chuva, mas não pode fechar o olho pra quem dorme na rua todo dia na nossa cidade. Empatia tem que ser muito mais do que o discurso.Por isso acho importante reforçar, mais uma vez, que qualquer ajuda, de qualquer pessoa, faz diferença em qualquer situação. Seja uma doação financeira ou não. Não importa se 10 ou mil reais. Um tênis ou 10 blusas de frio. Um pacote de ração ou a adoção de um cachorrinho abandonado. Ou mesmo uma ajuda emocional, uma doação de tempo e energia, pra ouvir e acolher alguém. Se é o que você pode fazer, é suficiente.É importante também que a gente não deixe a situação do RS cair no esquecimento. “Passou um mês, já foi”. Não. Tá bem longe de acabar. Ainda vai levar muito tempo pra reconstruir a vida de todo mundo, uma vida que provavelmente não vai ser igual a de antes. Então vamos continuar falando sobre o assunto, cobrando quem precisa ser cobrado e doando o que for possível, ao mesmo tempo em que a gente leva a nossa vida do jeito que dá. Um dia de cada vez.Enchentes no RS trazem risco à saúde mental da população
[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/