Análise: a crise de identidade do terceiro governo Lula

Política

A identidade ideológica do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confunde até mesmo integrantes da gestão petista.

Uma coisa é certa: o atual governo não é de direita. Mas ele é de centro ou de esquerda? Essa pergunta não tem resposta única no Palácio do Planalto.

Desde o ano passado, movimentos sociais têm cobrado do presidente a defesa de pautas progressistas, como a equidade de gênero, a reforma agrária e a proteção ambiental.

O presidente, contudo, disse recentemente que é “mais difícil” achar mulheres para o governo federal, tem se reunido pouco com movimentos sociais e defende projetos de infraestrutura que enfrentam resistência no Ministério do Meio Ambiente.

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Além disso, pautas de esquerda, como a descriminalização da maconha e do aborto, são evitadas pelo presidente, que resiste a envolver a articulação política do governo federal quando discutidas no Poder Legislativo.

Então a atual gestão é de centro? Para políticos do espectro político, também não. Para eles, a gestão petista tem falhado em respaldar Fernando Haddad para o cumprimento de um déficit zero neste ano.

Além disso, um embate permanente do petista com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, coloca em dúvida a independência do Banco Central.

A política internacional da atual gestão, também na visão de políticos de centro, é mais de esquerda do que de centro, fazendo pouca vista grossa a Nicolas Maduro (Venezuela) e Vladimir Putin (Rússia).

A crise de identidade, na visão de integrantes do próprio governo, tem afetado a popularidade da atual gestão. Em um ano e meio, o presidente tem dificuldade em dialogar com a esquerda e com o centro.

E insiste em uma política de redução de danos com segmentos conservadores, como o agronegócio e os evangélicos, o que, para deputados de esquerda, dificilmente lhe renderá dividendos eleitorais.

A avaliação é de que, até agora, o terceiro mandato do presidente tem sido uma extensão dos dois mandatos anteriores, sem grandes novidades.

O presidente não conseguiu até agora, por exemplo, lançar uma marca forte de sua nova gestão.

As iniciativas anunciadas são, em grande parte, repaginações dos mandatos anteriores, como o PAC (Programa de Aceleração para o Crescimento) e o Bolsa Família.

Os assessores do governo justificam a falta de novidades à necessidade da atual gestão de reconstruir o país por causa de retrocessos do governo anterior.

O terceiro mandato do petista, no entanto, se aproxima de sua metade. E, caso queira ser reeleito, na avaliação de integrantes da base aliada, o presidente tem duas missões.

A primeira: voltar a se reconectar com o eleitorado que votou no petista, tanto de esquerda como de centro. E a segunda: provar que tem capacidade de se reinventar.

[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/