O câncer de mama impacta a vida das mulheres de diferentes formas. Além dos sintomas próprios da doença e dos efeitos causados pelo tratamento, o impacto na saúde psicológica também pode trazer consequências para a vida sexual e para a autoestima.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia – regional São Paulo (SBM-SP), apesar de pouco estudada, a disfunção sexual em pacientes com câncer de mama é comum (ocorrendo em cerca de 25% a 66% dos casos).
Os maiores problemas são diminuição do interesse sexual (49,3%), dispareunia [dor genital] (entre 35% e 38%), preocupações quanto à imagem (10-14%), excitação (5%) e orgasmo (5%).
Isso pode estar relacionado ao próprio tratamento do câncer de mama, que inclui quimioterapia, radioterapia e cirurgia (tanto a conservadora, que remove apenas a região afetada pelo tumor, quanto a mastectomia, que consiste na remoção total ou parcial da mama).
Segundo a entidade, esses tratamentos podem resultar em mudanças físicas como queda de cabelo, deformidade nos seios ou na parede torácica, mudanças na textura da pele, falência ovariana, irritação na vulva, fogachos e ganho ou perda de peso, podendo, muitas vezes, afetar a autoestima das pacientes.
“Os tratamentos, como quimioterapia e terapias hormonais, afetam diretamente os níveis de hormônios, como a diminuição do estrógeno e da progesterona. Isso pode causar sintomas como secura vaginal e desconforto, causando uma queda na libido. Além disso, para muitas mulheres, a menopausa induzida pelo tratamento pode trazer essas mudanças de forma mais brusca, o que impacta a vida sexual”, explica Giovanna Gabriele, mastologista especialista em cirurgia oncológica, reparadora e estética, à CNN.
Apesar de o tratamento poder levar a sintomas físicos que podem impactar na libido e na autoestima da mulher, fatores psicológicos também têm papel importante na sexualidade feminina. Segundo Gabriele, o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama afetam a maneira como a mulher se enxerga, abalando a autoestima, principalmente após procedimentos como a mastectomia.
“Muitas mulheres passam a sentir que perderam parte da sua feminilidade, o que impacta diretamente na maneira como enxergam sua sexualidade. Além disso, o medo, a ansiedade e o estresse relacionados ao câncer e à recuperação podem criar um bloqueio emocional que interfere na libido”, afirma.
Diante dos impactos na autoestima e na vida sexual decorrentes do câncer de mama, o suporte psicológico passa a ser fundamental na vida da paciente. É através da terapia psicológica que a mulher poderá expressar suas emoções e lidar com as mudanças impostas pelo tratamento de maneira saudável.
“Estratégias como a terapia cognitivo-comportamental ajudam a reformular pensamentos negativos e a resgatar a autoestima. Além disso, a terapia sexual pode ajudar a mulher e/ou o casal a reconstruir a vida sexual, encontrando novos caminhos para a intimidade”, orienta Gabriele.
A adoção de práticas saudáveis, como alimentação equilibrada e prática de atividade física, também pode ajudar nesse processo, além de exercícios que fortaleçam o assoalho pélvico e o uso de lubrificantes, que podem ajudar a aliviar o desconforto em casos de dor nas relações sexuais.
Tratamentos hormonais também podem ser úteis, mas não para todas as pacientes de câncer de mama. “Em casos de câncer de mama hormônio-dependente, geralmente os tratamentos hormonais são contraindicados, mas podem ser prescritos a depender do caso, sob supervisão médica e após um período do tratamento”, afirma Gabriele.
“Mas há outras opções não hormonais, como cremes específicos, que podem ser considerados com o acompanhamento de um médico”, acrescenta.
A reconstrução da mama operada também pode ajudar a impactar positivamente a autoestima da mulher e ajudá-la a se reconectar com sua identidade e confiança. “Existem várias formas de reconstrução, usando implantes ou tecido da própria paciente. É importante lembrar que a sensação na mama reconstruída pode ser diferente, mas o resultado estético pode ser muito significativo para a autopercepção”, afirma a mastologista.
A reconstrução mamária pode ser realizada no mesmo momento da cirurgia oncológica, imediatamente após a remoção do tumor, segundo a especialista.
Por fim, a mastologista ressalta: “A retomada da libido deve ser feita com paciência e cuidado, respeitando o ritmo de cada mulher.”
Câncer de mama: entenda como amamentação pode reduzir risco
[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/