Conheça o azeviche: pedra preciosa da era vitoriana que voltou aos holofotes

Moda

Diamantes, safiras e rubis radiantes têm sido algumas das gemas mais cobiçadas do planeta por quase um século. Mas muito antes de seu reinado, uma pedra bem menos cintilante capturava os corações dos amantes de joias e agora está voltando à moda.

O azeviche, uma pedra preta e opaca, derivada de madeira que passou por extrema compressão ao longo de milhões de anos, era a pedra mais requisitada durante a era vitoriana — um tempo em que a moda e as joias sinalizavam habilmente o status social, riqueza financeira e até o estado emocional de uma pessoa.

O vestuário vitoriano era cheio de simbolismo e seguia códigos rígidos de decoro e classe. Corpetes apertados e cartolas, por exemplo, indicavam riqueza e decência, enquanto joias com pombas sugeriam profunda devoção religiosa.

Leve e preta como tinta, o azeviche é uma das pedras mais antigas conhecidas, e tem sido esculpida e moldada desde a era Neolítica (7.000 — 1.700 a.C.). Tanto os romanos quanto os vikings usavam o azeviche para criar desde botões e anéis até pequenas esculturas e amuletos protetores.

Foi a rainha Vitória, do Reino Unido, que elevou o azeviche ao ápice da moda em meados do século 19. A monarca usava azeviche com frequência, especialmente na segunda metade de seu reinado, pois a pedra combinava com os trajes totalmente pretos que ela passou a usar exclusivamente após a morte de seu marido, o Príncipe Albert. Desde então, o azeviche é sinônimo de luto.

“Quem era importante na época vitoriana queria usar azeviche”, disse a gemóloga britânica Sarah Steele, uma das poucas pesquisadoras de azeviche no mundo. “Fomos ao redor do mundo em busca de fontes de azeviche — para a Venezuela, para o norte da Espanha — e exportamos de volta para o Reino Unido.”

O interesse sustentado na pedra, entretanto, fez com que o mercado fosse lentamente inundado com azeviche de baixa qualidade, que lascava e rachava com mais facilidade, prejudicando a confiança dos consumidores. Simultaneamente, a revolução do plástico estava em alta. A popular resina para joias (agora muito colecionável), a Baquelite, foi inventada em 1907, e alguns fabricantes até aperfeiçoaram um azeviche de plástico — uma categoria eficaz e que, por acidente, destruiu o original.

Tudo isso levou à queda de popularidade do azeviche. “Todo mundo estava absolutamente farto de luto, e então veio a Primeira Guerra Mundial, e foi o fim disso”, acrescentou Steele. “Na verdade, temos sorte de a indústria ter sobrevivido.”

Então, enquanto o azeviche continuava a ser vendido no circuito de joias de souvenirs por décadas, ele foi amplamente ignorado por designers de moda e joalheiros de alta joalheria. Mas isso pode estar mudando.

Um pequeno grupo de designers respeitados tem recentemente abraçado o azeviche, incorporando a pedra leve em peças de joias finas vendidas por lojas influentes. E esses designers não estão usando qualquer azeviche — eles estão escolhendo propositadamente o azeviche de Whitby, amplamente considerado o padrão-ouro para joias feitas com a gema.

Embora a pedra tenha sido minerada em várias regiões discretas nos anos 1800, incluindo Espanha, França e o sudoeste dos EUA, o azeviche de Whitby se formou exclusivamente no subsolo ao redor da cidade costeira de Whitby, em North Yorkshire, na Inglaterra. E “o azeviche de Whitby está definitivamente na disputa para ser o melhor do mundo”, explicou Steele, que também é co-proprietária da Ebor Jetworks, uma histórica oficina e loja de azeviche na cidade.

O azeviche de Whitby é conhecido por ser preto como breu e resistente. Em geral, ele não racha nem desbota com o tempo, como outros azeviches de menor qualidade tendem a fazer.

A designer de joias finas Natasha Wightman, de Sussex, estreou sua primeira coleção para sua marca exclusivamente no Dover Street Market, um conceito de loja criado pela renomada designer de moda Rei Kawakubo e seu marido e parceiro Adrian Joffe, no início deste ano.

Chamada “Ravens” (Corvos), a série apresenta corvos negros em pleno voo, esculpidos com detalhes intrincados no azeviche de Whitby pelo artesão britânico Graham Heeley e montados em ouro pelo joalheiro local Ian Fowler. Wightman está determinada a usar exclusivamente materiais e mão de obra do Reino Unido em sua coleção. Sua estreia também inclui peças esculpidas em madeira de Moorland e galhadas de cervo que ela colheu de seu próprio quintal.

“Eu queria usar algo que viesse de nossa terra e país”, disse ela à CNN. “O azeviche é um dos materiais mais antigos usados para joias, e certamente na Grã-Bretanha… Adorei o romance dessa ideia, a história.”

Jacqueline Cullen, cujas obras são produzidas em ateliês em Londres e Whitby, foi uma das primeiras designers de joias finas a usar o azeviche de Whitby, há cerca de 20 anos. Sua coleção “Dark Matter” trouxe o azeviche ao futuro: formas arredondadas esculpidas de pedaços de azeviche de Whitby são adornadas com diamantes negros, resultando em joias que evocam pequenas galáxias cintilando com brilhos tonais e escuros.

A designer irlandesa não estava ciente da longa história do azeviche quando começou a trabalhar com ele como estudante na prestigiada escola de design Central Saint Martins, em Londres, mas desde que aprendeu sobre o passado do azeviche, ela acredita que a reputação e o lugar da pedra na história são “algo do qual ela precisa se libertar”.

“O azeviche de Whitby combina com minha estética e prática”, disse Cullen. “Eu me inspiro na energia elementar e nas forças dramáticas da natureza. Fissuras explosivas esculpidas à mão no azeviche de Whitby, embutidas com diamantes negros, fazem uma combinação perfeita para representar o vórtice de um buraco negro sugando e esmagando matéria escura.”

Mas, para muitos, a longa história da pedra no Reino Unido é parte de seu apelo. A Ebor Jetworks faz bons negócios em torno de celebrações e funerais reais, por exemplo. O azeviche é uma das únicas duas gemas extraídas na Inglaterra — a outra é o “blue john” de Derbyshire, que se assemelha à ametista com veios e faixas escuras.

Heeley, o mestre artesão que faz os corvos pretos de Wightman, disse que está feliz por ser parte de uma longa linha de artesãos que esculpiram a pedra na Inglaterra. E, como seus antecessores, ele a esculpe inteiramente à mão. “É um material macio, parecido com sílex, e você realmente precisa sentir o caminho ao trabalhar com ele”, observou. “Uma máquina provavelmente não faria da mesma maneira exata, e você realmente iria querer isso?”

E se o atual fervor por qualidades intangíveis — incluindo a fabricação artesanal e a verdadeira raridade — em nossos bens de luxo continuar, o azeviche está perfeitamente posicionado para conquistar mais fãs.

Alguém poderia facilmente imaginar um visionário da moda, como John Galliano ou Daniel Roseberry, da Schiaparelli, trazendo de volta botões de vestido de azeviche (um favorito de Maria, rainha da Escócia) e broches de camafeu de azeviche, ou encomendando um fecho de azeviche esculpido para uma clutch sob medida.

Outro atrativo para seguidores da moda que buscam se destacar na multidão é que, ao contrário de diamantes e pérolas, o azeviche é genuinamente raro — escasso, até. Artesãos e comerciantes de azeviche estão sempre em falta. A única maneira de adquirir novo azeviche é caçá-lo onde ele se desprendeu de formações geológicas.

Steele e seus colegas de trabalho viajam pela costa em busca de pedaços soltos de azeviche que foram levados pela maré, o único azeviche que é legalmente permitido recolher. As terras em torno de Whitby, onde o azeviche foi extraído por muito tempo, agora são de propriedade privada.

“Não há azeviche suficiente por aí, e você não pode comprar grandes pedaços de azeviche”, disse Steele. “Recebemos turistas nos ligando o tempo todo pedindo por azeviche bruto, e a resposta é sempre ‘não.’”

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[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/