Um rap confiante, que carrega autoestima. Varia no beat, ousa no feat e é feito de mulher para mulher: “O público muda tudo. Agora estão começando a entender que as meninas têm tanto potencial, ou até mais, quanto alguns caras da cena. E as músicas refletem isso. Pare de fazer fã-clube para esses caras, pare de comentar ‘lindo’ na foto desses caras que estão xingando vocês nas músicas, que vão te tratar igual a lixo. As minas tomaram consciência que elas precisam se apegar a artistas que as tratam bem, que as entendem, que cantam coisas que elas se identificam. E não são os caras”, defende a rapper Duquesa.
Natural de Feira de Santana, Jeysa Ribeiro escolheu se chamar Duquesa após a gravação do que seria seu primeiro trabalho no rap, uma participação com o grupo feirense Sincronia Primordial, em 2015. Desde então, já são oito anos transitando em shows, slams e eventos de rap na Bahia, lançando seus primeiros singles como Dois Mundos (2017) e Futurista (2019), o EP Sinto Muito (2022) e o álbum Taurus (2023), que a destacou como uma das vozes femininas proeminentes na cena do rap.
Veja o clipe de Ela:
Cada vez mais certa de si e dos caminhos que tem para explorar, Duquesa, 24 anos, lança nesta hoje (10), nas plataformas de streaming, seu segundo álbum. Um projeto de sequência, intitulado Taurus Vol. 2, com maior versatilidade em músicas que exploram o rap, trap, grime, R&B, house e o pop.
“Com Taurus, as pessoas entenderam quem sou eu. E acho que esse novo álbum mostra meu potencial enquanto artista”, afirma. Taurus Vol. II possui 13 faixas, que trazem colaborações com os rappers Jovem Dex, Tasha & Tracie, Baco Exu do Blues, Yunk Vino e as cantoras Urias e Zaila. “Ele inteiro é muito quente e é explícito, aviso assim de antemão”, brinca.
A música que abre o disco, Ela, foi lançada como single no dia 1º de maio juntamente com o clipe. A faixa chama atenção pela sonoridade, letra e visualidade que adentram o íntimo, as dificuldades enfrentadas por Duquesa e como ela reverte o jogo, a caminho da liberdade e do empoderamento.
“Fiz Ela para o meu momento mais ansioso. É a mesma sensação de quando uma mulher branca me olha na loja sem eu ter feito nada, do segurança me seguindo, de não conseguir pegar meu celular da minha bolsa sem ninguém suspeitar que tô roubando. A minha ansiedade me trava, me deixa com medo. Essa música foi feita para pessoas que passam pelo mesmo”, diz.
O efeito Taurus
Por volta de 2019, Duquesa imergiu no R&B, ouvindo artistas como Summer Walker, SZA e Frank Ocean, e começou a interpretar e compor canções do gênero. Porém, ela revela ter ficado intrigada ao perceber que as pessoas pareciam estar confortáveis em ver mulheres negras em relacionamentos frustrados e decidiu em outra direção: cantar sobre a autoestima de mulheres negras.
E foi nesse sentido que o primeiro álbum caminhou. Acompanhando de perto todas as etapas criativas e de produção, a artista quis construir um disco que inspirasse e falasse com as mulheres negras ou plus size. “Nossa genética é muito forte e a gente vai ter um corpo grande, não tem como lutar contra a nossa genética, entende? Eu tenho hipotireoidismo, por exemplo, mesmo que eu quisesse ser magra, nunca seria. Há milhares de mulheres como eu, que não conseguem falar sobre isso porque têm vergonha, porque as pessoas acham que é sedentarismo. Decidi transformar isso em algo empoderador para mim.”
“Não vai ter como reverter o que aconteceu com o Taurus Vol. 1, as meninas entenderam o recado”, diz a artista. Ela pontua que a cena do rap tem mudado de forma positiva e o público também: “Nunca foi sobre qualidade, as rappers sempre foram muito boas, a parada é que as meninas consumiam muitos caras. O que tornava eles muito mais conhecidos. E hoje em dia a gente fala ‘vou sair para curtir o show de uma mina tal’ e quando vai ver o show tá lotado, tá ligado? Isso só acontecia com a diva pop, agora tá acontecendo com as meninas do rap”.
Duquesa garante que essa missão se estende e é amplificada com o Taurus Vol. II: “Esse é o enfrentamento que eu quero. As mulheres precisam de autoestima, a gente já sofre por muita coisa. Já deu de se colocar no lugar em que a gente se inferioriza. Já chega de se colocar num lugar onde nossa autoestima é ferida”, arremata.
[*] – Fonte: https://www.correio24horas.com.br/