Entenda o movimento que está fazendo jovens americanos desistirem de ter uma casa

Casa & Decoração

Os americanos estão vivendo o momento mais difícil do mercado imobiliário em uma geração e, para alguns jovens, o sonho de ter uma casa própria está desaparecendo.

As taxas de hipoteca aumentaram nos últimos anos, atingindo os níveis mais altos em mais de duas décadas no outono passado. Embora as taxas tenham caído um pouco desde então, os preços dos imóveis permanecem dolorosamente elevados e um estoque limitado de moradias ainda não consegue acompanhar a demanda.

Essas condições significam que a habitação se tornou inacessível.

A queda das taxas hipotecárias nas últimas semanas ajudou, mas os preços dos imóveis podem continuar rígidos, de acordo com os economistas. Ainda é um momento ruim para procurar uma casa, mas é ainda pior para os jovens compradores de primeira viagem que precisam economizar para dar uma entrada e aumentar sua pontuação de crédito em uma época em que os Baby Boomers se recusam a se desfazer de suas grandes casas.

A situação não é muito melhor para os locatários, pois os aluguéis mal caíram em relação aos recordes de alta e metade dos inquilinos nesse mercado diz que não consegue nem mesmo pagar suas prestações.

Sondagens e pesquisam estão captando a inquietação com a crise de acessibilidade econômica dos Estados Unidos, mas os dados que descrevem o sentimento especificamente entre os jovens são limitados.

A CNN conversou com alguns jovens americanos sobre o que eles pensam a respeito da situação atual do mercado imobiliário dos EUA e seus planos para o futuro.

Brandie Grant, 35 anos, mora na área da Baía de São Francisco, um dos mercados imobiliários mais caros do país. Apesar da educação difícil, ela se esforçou para se formar na faculdade com um diploma de bacharel e agora está ganhando US$ 76.000 por ano como consultora sênior de uma editora acadêmica, mas disse que mal consegue pagar as contas.

Após pagar todos os boletos a cada mês, incluindo US$ 500,00 para uma dívida estudantil de mais de US$ 90.000,00, Grant disse que não tem o suficiente para economizar e pagar uma entrada.

“Estou muito, muito cansada. Ter filhos nunca estará na mesa. Não coloquei um centavo sequer em meu fundo de aposentadoria, portanto, não há esperança alguma de que eu tenha uma casa própria”, disse ela.

A entrada mínima necessária para comprar uma casa depende de vários fatores, como o tipo de hipoteca que está sendo contratada, a pontuação de crédito do possível comprador e o preço pedido pela propriedade.

A sabedoria convencional é que os compradores esperançosos devem economizar para dar uma entrada de 20% antes de fazer compras, mas fazer isso é um sonho impossível para aqueles que não conseguem nem mesmo poupar para começar.

No entanto, a entrada típica para um comprador de primeira viagem é geralmente muito menor: 6% no ano passado, de acordo com a National Association of Realtors.

Um empréstimo da Federal Housing Administration, apoiado pelo governo, exige uma entrada de apenas 3,5%, e mesmo economizar essa quantia pode ser assustador.

O período para que o comprados típico de casa própria consiga economizar e pagar a entrada média de um imóvel com valor médio nos Estados unidos é de 9 anos, de acordo com dados da Zillow.

A constituição de um pagamento inicial também tem sido difícil para Ross Bunton, um gerente de casos de 26 anos que mora em St. Louis, Missouri, com sua esposa. Isso se deve principalmente a uma combinação do preço do aluguel e das caras contas médicas, que consomem uma parte significativa do orçamento mensal do casal, disse ele.

Sua situação financeira atual significa que ter filhos em breve está fora de questão, disse ele à CNN.

“De fato, não consegui economizar dinheiro no último ano”, afirmou Bunton.

Ele conta que “não acho que comprar uma casa seja algo muito realista para mim, nem mesmo nos próximos dois anos, portanto, não estou pensando nisso no momento e, se eu e minha esposa tivéssemos filhos, com certeza gostaríamos de estar financeiramente confortáveis ou capazes de fazer isso. Portanto, também não vejo isso como algo realista”.

Para alguns, morar com os pais é a melhor opção, e esse certamente parece ser o caso hoje em dia, com a acessibilidade de moradia fora do alcance de muitos jovens.

Mais da metade dos adultos norte-americanos entre 18 e 24 anos morava com os pais em 2023. Essa tem sido a realidade de Corey Griffis, 24 anos, que mora na casa dos pais em Portland, Oregon.

Ele se formou em história no ano passado pela Montana State University, mas disse que não teve sorte em encontrar um emprego. Além de ainda não ter a estabilidade financeira de um cargo em tempo integral, ele disse que não acha possível ter uma casa própria algum dia, a menos que encontre um parceiro primeiro.

“Ter dois fluxos de renda faz muito por você e não consigo imaginar ter uma casa própria até que eu tenha uma parceria com alguém”, disse Griffis.

“O mercado imobiliário não é o mercado de uma única pessoa”, afirmou.

O que normalmente acontece quando um mercado imobiliário regional se torna muito inacessível é que as pessoas sem recursos simplesmente se mudam para um lugar mais barato, como um subúrbio a uma hora de distância, por exemplo.

Uma outra opção, porém menos comum, é mudar-se para um país completamente diferente.

Shyahm Aguilar, 37 anos, é um cidadão americano naturalizado que veio do México para o país ainda criança, na década de 1980. Atualmente, ele trabalha em um hotel em Santa Fé, Novo México, o mercado mais caro do estado, e mora em uma casa alugada para uma única família com sua irmã e suas três filhas.

Aguilar disse que não acha que ter uma casa em Santa Fé seja “uma realidade nos próximos 10 anos”, mas que se mudar para Mérida, no México, em 2025, para abrir uma lavanderia com seu sócio, que atualmente trabalha no Colorado, provavelmente seria uma aposta muito melhor.

“As lavadoras e secadoras não são tão caras no México, e já analisamos o preço para abrir uma lavanderia, que seria algo em torno de US$ 10.000”, disse Aguilar.

Ele conta que pode “pegar esse dinheiro para abrir um negócio lá. Aqui, isso não é suficiente nem mesmo para dar uma entrada em uma casa”.

As altas taxas de hipoteca são um dos principais motivos pelos quais algumas pessoas se sentem tão desanimadas com o mercado imobiliário dos Estados Unidos. Mas tem ultimamente havido algumas boas notícias.

O Federal Reserve (Fed, da sigla em inglês) sinalizou que em breve reduzirá as taxas de juros, agora que a inflação elevada de décadas diminuiu. Esse movimento afetará a taxa média de hipoteca fixa de 30 anos, embora os economistas digam que duvidam que as taxas caiam abaixo de 6% este ano.

A perspectiva de pagamentos mensais de hipoteca mais baixos já melhorou a atitude dos americanos em relação ao mercado imobiliário, de acordo com a última Pesquisa Nacional de Habitação da Fannie Mae, divulgada no mês passado.

“Os proprietários de imóveis nos disseram repetidamente que as altas taxas de hipoteca são o principal motivo pelo qual é um momento ruim para comprar e vender um imóvel e, portanto, uma perspectiva mais positiva das taxas de hipoteca pode [incentivar] alguns a colocar seus imóveis à venda, ajudando a aumentar a oferta de imóveis existentes no novo ano”, disse Mark Palim, vice-presidente e economista-chefe adjunto da Fannie Mae, em comunicado.

Ainda assim, a acessibilidade considera as taxas de hipoteca, a renda familiar e os preços das residências unifamiliares, que continuam sendo um ponto problemático.

O preço médio de venda de casas em 2023 foi de US$ 389.800, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, da sigla em inglês), um aumento de cerca de 1% em relação a 2022 e o mais alto já registrado.

Taxas hipotecárias mais baixas melhorariam a acessibilidade, mas leis de zoneamento melhores poderiam ter um impacto mais duradouro.

“A solução sustentável é facilitar a construção de moradias. Dessa forma, podemos realmente começar a caminhar na direção certa com a acessibilidade e fazer com que isso seja sustentável e não apenas um fenômeno de taxa de juros de curto prazo”, disse Daryl Fairweather, economista-chefe da Redfin, à CNN.

Fairweather oferece algumas dicas para os jovens compradores de primeira viagem:

Sofiya Vyshnevska, diretora de operações da NewHomesMate, explica que as casas recém-construídas podem ser uma opção viável para os compradores de primeira viagem.

Isso porque algumas construtoras estão propondo incentivos para os custos de fechamento, como um buydown de 2-1, que é um tipo de financiamento que reduz a taxa de juros nos primeiros dois anos antes de subir para a taxa regular e permanente.

Vyshnevska disse que essas ofertas estão se tornando mais comuns em cidades que aumentaram a construção residencial nos últimos anos, como Minneapolis; Houston; Dallas; Austin, Texas; Tampa, Jacksonville e Orlando, na Flórida; e Atlanta e Phoenix.

“Os jovens compradores de casas pela primeira vez geralmente não sabem disso porque não há um lugar onde eles possam ver todos esses incentivos, portanto, entrar em contato diretamente com o construtor para fazer o negócio funcionar é uma boa opção”, disse ela.

[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/