Entenda o que acontece com o cérebro quando passamos pelo luto

Saúde

O luto é uma experiência emocional intensa que pode provocar alterações em regiões específicas do cérebro, resultando em efeitos por todo o corpo.

É importante esclarecer que o luto não envolve só a perda de uma pessoa, podendo ser também outros tipos de perdas, como a de um animalzinho de estimação, de um emprego, de uma situação financeira, enfim, é algo complexo e subjetivo.

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“Cada pessoa vive o luto de uma forma diferente, ele não é padronizado. Quanto mais frágil emocionalmente essa pessoa for, mais difícil será o processo de enfrentamento de luto. Quanto mais forte ela for emocionalmente, menos doloroso será o processo porque ela terá mais condições de elaborar melhor o luto e continuar vivendo a vida”, explica Marcella Pinto Maia Rett, diretora do setor de Psicologia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (Iamspe).

Estudos científicos mostram que o processo de luto está associado a mudanças neurobiológicas que podem afetar diferentes regiões do cérebro, como o sistema límbico (parte emocional do cérebro), o circuito de recompensa cerebral e o córtex pré-frontal e também o organismo, como o sistema imunológico.

Algumas das mudanças observadas após o luto incluem:

“Devido ao intenso estresse, é possível, sim, algumas alterações, como na amígdala cerebral, que é uma região importante e está relacionada à luta e à fuga, alterações do hipocampo, e em outras áreas envolvidas na regulação das emoções. Outra coisa que pode acontecer é uma desregulação dos níveis de serotonina e dopamina. A desregulação desses níveis pode ocasionar em tristeza, ansiedade e vontade de chorar”, detalha a psiquiatra Jessica Martani.

Todas essas mudanças são prejudiciais, especialmente se persistirem por longos períodos, e pode deixar o corpo mais propenso a adoecer, tanto com doenças físicas quanto com doenças psíquicas.

Ao perder uma pessoa amada nosso cérebro passa por diversas mudanças que podem até mesmo nos fazer envelhecer mais rápido. É o que mostra um novo estudo feito por pesquisadores da Columbia University School of Public Health e do Butler Columbia Aging Center.

Para chegar às conclusões, os pesquisadores usaram dados do National Longitudinal Study of Adolescent to Adult Health, iniciado em 1994 e 1995. O estudo acompanhou os participantes desde a adolescência até a idade adulta e cada período acompanhado foi chamado de “onda”.

Na primeira onda, foram entrevistados 20.745 adolescentes entre 12 e 19 anos. Desde então, eles foram acompanhados ao longo da vida. A quinta onda aconteceu entre 2016 e 2018, com 12.300 entrevistas dos participantes originais.

Na última onda, os participantes foram convidados para um exame domiciliar, em que foram recolhidas amostras de sangue de quase 4.500 participantes para a realização de teste de DNA.

O estudo analisou as perdas sofridas durante a infância e adolescência (até os 18 anos) e na vida adulta (entre 19 e 43 anos). Os pesquisadores também examinaram o número de perdas sofridas durante esse mesmo período. Em seguida, dados de envelhecimento biológico foram avaliados a partir da metilação do DNA do sangue.

Segundo a pesquisa, quase 40% dos participantes experimentaram, pelo menos, uma perda de ente querido na vida adulta, entre as idades de 33 e 43 anos. A perda parental foi mais comum na vida adulta (27%) do que na infância e na adolescência (6%).

A pesquisa revelou que as pessoas que viveram duas ou mais perdas tinham idades biológicas mais velhas. Vivenciar duas ou mais perdas na vida adulta mostrou ter uma relação mais forte com o envelhecimento biológico do que uma única perda e do que nenhuma perda.

Para minimizar os efeitos negativos do luto, os especialistas ouvidos pela reportagem da CNN recomendam algumas estratégias:

“Essas medidas podem contribuir para uma melhor resiliência emocional e física durante o processo de luto e auxiliar na adaptação saudável às mudanças que ocorrem no cérebro e no organismo nesse período”, acrescenta Fernando Gomes neurocirurgião, neurocientista e professor livre docente da USP (Universidade de São Paulo).

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[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/