Estresse por calor pode afetar bebês após nascimento, sugere estudo

Saúde

O estresse causado pela exposição a temperaturas elevadas, chamado estresse térmico, pode afetar o crescimento do feto durante a gravidez e continuar impactando a saúde do bebê após o nascimento, até os dois anos. A descoberta é de um novo estudo publicado na renomada revista científica The Lancet Planetary Health nesta terça-feira (8).

Esse é o primeiro trabalho a mostrar que o estresse térmico pode afetar o desenvolvimento dos bebês após o nascimento e se soma a evidências anteriores de que as altas temperaturas podem impactar na saúde do feto.

Para chegar às conclusões, a pesquisa examinou dados de bebês e suas mães que foram coletados durante um ensaio clínico na Gâmbia e identificou uma pequena redução no peso ao nascer em relação à idade gestacional para cada aumento de 1 °C no estresse térmico médio diário durante o primeiro trimestre da gravidez.

De acordo com o estudo, nenhum efeito no crescimento relacionado ao estresse pelo calor durante o segundo trimestre foi observado. Além disso, a pesquisa sugeriu que poderia haver um aumento na circunferência da cabeça em comparação ao corpo para a idade gestacional em fetos expostos ao estresse térmico durante o terceiro trimestre, mas esse achado foi menos confiável, segundo os pesquisadores.

As descobertas do estudo mostram, ainda, que bebês de até dois anos que foram expostos a altas temperaturas podem ter pesos e alturas menores para a sua idade. Segundo a pesquisa, as maiores reduções nessas medidas foram observadas em bebês com idade entre 6 e 18 meses que tinham experimentado níveis médios diários mais altos de estresse por calor três meses antes da análise.

De acordo com os pesquisadores, aos 12 meses de idade, os bebês expostos a um valor médio de estresse térmico equivalente a 30°C tiveram maior probabilidade de ter peso reduzido para sua altura e idade, em comparação com aqueles que sofreram estresse térmico equivalente a 25°C. Os resultados foram encontrados em bebês do sexo masculino e feminino.

Os dados do estudo foram coletados originalmente por meio do ensaio clínico randomizado Early Nutrition and Immunity Development (ENID), realizado em West Kiang, na Gâmbia, entre janeiro de 2010 e fevereiro de 2015. Um total de 668 bebês foram acompanhados durante os primeiros 1.000 dias de vida, sendo 329 (49%) do sexo feminino e 339 (51%) do sexo masculino.

Os pesquisadores analisaram a relação entre estresse por calor e crescimento fetal com base em pontuações clinicamente reconhecidas para peso, comprimento e circunferência da cabeça para idade gestacional. Ele também avaliou o efeito do estresse por calor no crescimento infantil com base em pontuações de peso e altura de 0 a 2 anos de idade.

Segundo o trabalho, 66 (10%) recém-nascidos pesavam menos de 2,5 kg ao nascer, considerado baixo peso, enquanto 218 (33%) eram pequenos para a idade gestacional e nove nasceram prematuros.

“Nosso estudo demonstra que as crises interligadas de mudanças climáticas, insegurança alimentar e
subnutrição estão afetando desproporcionalmente os mais vulneráveis, incluindo crianças pequenas”, afirma Ana Bonell, professora assistente da Unidade do Conselho de Pesquisa Médica da Gâmbia (MRCG), em comunicado à imprensa.

“Essas descobertas se baseiam em evidências anteriores que mostram que o primeiro trimestre é um
período vulnerável à exposição ao calor e é importante que agora consideremos quais fatores podem estar
contribuindo para o relacionamento”, acrescenta.

O estresse térmico é uma condição caracterizada por condições climáticas que fazem com que a temperatura corporal aumente e não consiga se manter nos 36,5°C ideais para o bom funcionamento do organismo. Um estudo divulgado no ano passado pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ) mostrou que mais de 38 milhões brasileiros são expostos ao estresse térmico.

Em matéria publicada anteriormente na CNN, Pedro Chocair, clínico geral e nefrologista do Hospital Alemão Oswaldo, explica que excesso de calor provoca sudorese intensa, dilatação dos vasos periféricos, queda da pressão arterial e suas consequências.

O estresse térmico pode causar sintomas como fadiga, dor de cabeça, dor muscular e manifestações neurológicas, como confusão mental, tonturas e alterações no sono.

No estudo em questão, a tensão por calor foi definida usando o Índice de Clima Térmico Universal, que considera fatores como calor, umidade, velocidade do vento e radiação solar, e atribui uma temperatura equivalente (°C) com um risco associado de desenvolvimento de tensão por calor.

Ao longo do estudo, o nível médio de exposição ao estresse térmico foi de 29,6°C. O máximo diário mais alto foi de 45,7°C e o mínimo diário mais alto foi de 28,9 °C.

“É provável que o estresse térmico possa afetar o apetite, a ingestão e a disponibilidade de alimentos, e também já estamos investigando se pode haver efeitos diretos nas vias celulares e inflamatórias, aumentando a capacidade já reduzida de mães grávidas e bebês de regular sua própria temperatura corporal”, afirma Bonell.

“Precisamos explorar quais populações estão projetadas para sofrer mais estresse por calor e onde pode estar sendo registrada uma queda no crescimento, para que possamos desenvolver medidas eficazes de saúde pública. Com as taxas globais de desperdício infantil permanecendo inaceitavelmente altas e o aquecimento planetário contínuo, essas descobertas devem estimular ações para melhorar a saúde infantil”, completa.

Os pesquisadores enfatizam que mais estudos são necessários para avaliar a relação entre estresse por calor e impactos na saúde em regiões além da Gâmbia. Além disso, os dados disponíveis não continham informações sobre práticas alimentares, infecções maternas ou status socioeconômico, o que também pode impactar o crescimento fetal e infantil.

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[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/