Exercícios aeróbicos na velhice reduzem risco de demência, diz estudo

Saúde

Fazer mais exercícios aeróbicos na meia-idade e na velhice pode reduzir o risco de demência, incluindo a doença de Alzheimer, descobriu um novo estudo publicado terça-feira (19) no British Journal of Sports Medicine.

“Nosso estudo ressalta o papel crítico do condicionamento cardiovascular na redução do risco de demência, mesmo para aqueles geneticamente predispostos à doença de Alzheimer”, afirma Weili Xu, professora do Centro de Pesquisa sobre Envelhecimento do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia.

“Incentivar melhorias graduais no condicionamento físico oferece uma maneira prática e impactante de apoiar a saúde cerebral em diversas populações”, diz Xu, autora sênior do estudo, em um e-mail.

No geral, pessoas com melhor condicionamento cardiorrespiratório apresentaram melhor função cognitiva e apenas 0,6% de risco relativo de longo prazo para demência em comparação com aquelas que não estavam tão em forma — um benefício que atrasou o início da demência em 1,5 anos, segundo o estudo.

A resistência cardiorrespiratória, que é desenvolvida por exercícios aeróbicos regulares, aumenta a captação de oxigênio nos pulmões e no coração e ajuda as pessoas a sustentarem atividades de alta intensidade por um período prolongado sem ficarem cansadas.

O estudo descobriu que um benefício ainda maior foi observado em pessoas com predisposição genética para Alzheimer — aquelas com maior resistência cardiorrespiratória tiveram um risco relativo 35% menor de desenvolver a doença.

“Existe um ditado — os genes não são nosso destino; todos podemos fazer escolhas proativas para ajudar a vencer o cabo de guerra contra nossos genes. Este estudo apoia totalmente isso”, diz o neurologista preventivo Richard Isaacson, diretor de pesquisa do Instituto de Doenças Neurodegenerativas na Flórida, que não participou do estudo.

“Sempre considerei o exercício como um “medicamento” milagroso que tem efeitos estimulantes no cérebro”, afirma Isaacson em um e-mail.

“Embora neste estudo o maior condicionamento físico sozinho tenha atrasado o início da demência em 1,5 anos, podemos fazer ainda melhor seguindo também uma dieta saudável, controlando o colesterol, a pressão arterial e o açúcar no sangue, fazendo exames regulares de audição e visão, e priorizando o sono”.

Estudos mostram que um baixo nível de condicionamento cardiorrespiratório é um forte preditor de doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e morte prematura por todas as causas, incluindo câncer.

Sem esforço, no entanto, o condicionamento cardiorrespiratório diminui conforme as pessoas envelhecem. De acordo com uma declaração científica da American Heart Association, ele diminui a uma taxa de 3% a 6% durante os 20 e 30 anos de idade e aumenta para uma taxa de mais de 20% por década após os 70 anos.

O novo estudo analisou dados de mais de 61.000 pessoas sem demência com idades entre 39 e 70 anos que se inscreveram no UK Biobank, um estudo longitudinal com mais de meio milhão de cidadãos britânicos.

Um teste inicial de condicionamento cardiorrespiratório foi feito quando as pessoas se inscreveram pela primeira vez entre 2009 e 2010, junto com testes de função cognitiva e risco genético. Doze anos depois, os pesquisadores procuraram ver se havia uma conexão entre o condicionamento físico do grupo há mais de uma década e qualquer diagnóstico atual de demência.

“Este estudo encontrou um efeito dose-dependente — significando que mais era melhor — do condicionamento físico em vários tipos críticos de desempenho cognitivo”, diz Isaacson. “Em diferentes tipos de memória, como recordar palavras e números específicos ou lembrar de realizar uma ação futura planejada, como marcar uma consulta, o condicionamento cardiorrespiratório pode realmente fazer a diferença”.

Estar aerobicamente em forma também pode melhorar a velocidade do pensamento cerebral, como na rapidez com que palavras e ideias podem viajar do ponto A ao ponto B no cérebro, acrescenta o especialista.

“Para usar uma analogia com carros, quanto mais em forma uma pessoa está, mais efetivamente ela pode mudar para uma marcha mental mais alta e mais rápido ela pode ir”, afirma Isaacson.

O estudo foi observacional, o que significa que nenhuma relação direta de causa e efeito pode ser determinada, segundo o cardiologista Valentin Fuster, presidente do Mount Sinai Fuster Heart Hospital e médico-chefe do Mount Sinai Hospital em Nova York.

Os resultados do estudo também devem ser interpretados com cautela devido às preocupações de saúde das pessoas que tinham baixo condicionamento cardiorrespiratório, segundo Fuster, que é ex-presidente da American Heart Association e da World Heart Federation.

“Quando você observa os grupos de pacientes que tinham baixa aptidão cardiorrespiratória em comparação com aqueles que tinham aptidão moderada ou alta, há algo muito impressionante”, diz Fuster. “Foram aqueles com baixa aptidão que apresentaram mais hipertensão, mais diabetes, colesterol alto e mais obesidade.”

Todas essas condições de saúde são gatilhos para doenças cardiovasculares e danos aos pequenos vasos sanguíneos, incluindo os do cérebro, explicou ele. O estudo mostrou que pessoas com alta aptidão cardiorrespiratória tinham maior probabilidade de cuidar de si mesmas e, portanto, proteger a conexão coração-cérebro.

“Isso é crítico para o futuro, essa conexão coração-cérebro”, afirma Fuster. “Os mesmos fatores de risco que afetam as doenças cardiovasculares podem ter um papel no desenvolvimento da demência vascular, e há até dados sugerindo que eles têm um papel na aceleração da doença de Alzheimer.”

Qual é a melhor maneira de aumentar sua aptidão cardiorrespiratória e proteger seu coração e cérebro? Escolha um exercício aeróbico e faça-o em uma intensidade que tire seu fôlego e dificulte manter uma conversa, aconselham os especialistas.

“Um exercício aeróbico pode ser com uma bicicleta com baixa resistência, uma esteira com baixa resistência, ou caminhando na rua em uma velocidade razoável — mas faça isso por pelo menos meia hora, cinco dias por semana”, diz Fuster.

Outras opções incluem dança vigorosa, caminhada, corrida leve, corrida, remo, subida de escadas ou natação. Esportes coletivos como basquete, futebol e hóquei também aumentarão a frequência cardíaca e estimularão o fluxo de oxigênio.

O treinamento intervalado de alta intensidade, também conhecido como HIIT, no qual o exercício de alta intensidade é misturado com atividade de menor intensidade, pode aumentar a resistência cardiovascular em até 79%, segundo a Cleveland Clinic.

Existem outros benefícios também — o exercício ajuda na perda de peso, estabilização do humor e sono de qualidade. Também pode prolongar sua vida.

Fazer exercício só no fim de semana reduz o risco de demência? Entenda

[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/