O cantor e compositor baiano J. Velloso, 63 anos, nasceu em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano e foi para Salvador estudar medicina veterinária. Depois de se formar, voltou para a cidade natal e começou a se envolver com música. Convivia com muitos artistas e um deles, 18 anos mais jovem, lhe chamava a atenção: Gustavo Caribé, músico e sobrinho de Roberto Mendes, importante compositor de Santo Amaro.
J. percebia que Gustavo absorvia o refinamento musical do tio, mas notava que o rapaz ficava meio “aprisionado” ao padrão de Roberto Mendes:
Enquanto isso, o rapaz, que acabaria se tornado baixista, amadurecia musicalmente e ia descobrindo o seu próprio caminho na arte. Até que criou o Recôncavo Experimental, um grupo musical que mais tarde acabaria se transformando num coletivo artístico.
Agora, J. se junta a Gustavo para lançar o álbum J. Velloso e Recôncavo Experimental, que chega hoje às plataformas de música. Com um olho na tradição e outro na modernidade, o resultado é uma mistura muito interessante que leva o ouvinte às raízes culturais do Recôncavo Baiano, em canções que trazem elementos de manifestações culturais locais como capoeira, maculelê e Nego Fugido.
Guitarra
Mas há também muita guitarra, baixo e elementos eletrônicos. “Gustavo pega a chula [tradição do Recôncavo] e bota a sonoridade que ele gosta, com pop, rock, música eletrônica… ele gosta da música ‘na pressão’, com um ‘gravão’. É quase um mangue beat do Recôncavo”, diz J. entusiasmado. O compositor assina a autoria de 12 das 13 canções do álbum, sendo algumas em parceria com Gustavo, que é arranjador e produtor do trabalho, além de baixista e guitarrista em diversas faixas. Ele também assina os beats e synts.
Há também parcerias da dupla com Mirella Medeiros, diretora artística do lançamento. J. diz que ele e Mirella deram um estímulo a Gustavo, para que o produtor musical se encorajasse a mergulhar na experimentação. “O grande diferencial dele seria esse. Sugerimos, por exemplo, pegar a marujada e o maculelê e fazer essas experimentações”, revela J.
Gustavo reconhece a importância de Roberto Mendes na sua formação musical:
Mas Gustavo diz que passou por uma transformação musical quando conheceu outros gêneros, como o reggae – que também tem força no Recôncavo – e o rock.
Nação Zumbi
“Tinha vontade de fazer música com as timbragens do rock. O Nação Zumbi foi uma grande inspiração para mim. Eles uniam samba, maracatu e candomblé! Aquilo me deu muita coragem”, revela Gustavo. Mas ele reconhece que, inicialmente, houve quem torcesse o nariz para sua ousadia de fazer uma chula que se distanciava da tradicional: “Tem um pessoal conservador, que acha que não faço chula. Mas tem muito de chula em meu trabalho porque vivi isso intensamente”, garante.
O álbum tem a participação de convidados, como Gerônimo, que está na faixa Tudo é Mundo, inspirada na Chegança, outra manifestação do Recôncavo, inspirada na saga marítima portuguesa. Aqui, destaca-se, além da interpetação sensível e melancólica de Gerônimo, o pandeiro de Gustavo e a percussão de Pururu. “A gente sabia da relação de Gerônimo com o mar, então pensamos nele para cantar ao menos o improviso no fim. Mas ficou tão lindo, que ele acabou cantando tudo”, diz J.
Há ainda a participação de Illy nos assovios e vocais na faixa Marafo Bom. E Jussara Silveira está na música Cadê Jão, que é um diálogo entre um filho de Oxossi e o seu orixá, explorando os caminhos do amor e da fé. “Jussara é filha de Oxossi e adorou a ideia”, festeja J.
[*] – Fonte: https://www.correio24horas.com.br/