“Jacinto é um espetáculo que vai falar sobre é um casal LGBTQIAPN+, ele é político, a arte é política. A gente precisa entender como as políticas públicas afetam a vida das pessoas e a peça vai construindo essa narrativa, agregando o público dentro dela e fazendo você se questionar como você pode mudar essa realidade”, afirma o diretor Leonardo Crusoé. Jacinto Morto chega a sua quarta temporada, estreando na Sala do Coro do Teatro Castro Alves nesta sexta-feira (28), às 20h e segue em cartaz até o dia 30 de junho, com ingressos disponíveis na bilheteria do teatro e pelo Sympla.
O autor e diretor de 24 anos, explica que o título foi inspirado na história de Jacinto na mitologia grega, um homem muito bonito que inspirou paixão no deus Apolo e foi transformado em flor por ele após sua morte. A representatividade das flores na comunidade LGBT também influenciou o título, como a coroa de flores de Marsha P. Johnson durante o Stonewall e as flores que Oscar Wilde usava dentro da comunidade inglesa para identificar os homens gays.
“É uma metáfora que vai para a cena. Na peça, temos a história de dois homens que estão há 100 dias em uma cela e estão com os pulsos amarrados em paredes opostas, então eles não conseguem se aproximar, é a prisão dentro de uma prisão. O espetáculo vai se desenrolando a partir do diálogo entre esses dois atores e a relação deles”, pontua Léo Crusoé.
A peça surgiu dentro de uma disciplina prática do curso de bacharelado em direção teatral da UFBA, do qual Léo é graduando, e teve sua primeira estreia em 2023 no Teatro Goethe-Institut Salvador, passando posteriormente pelo Teatro Sesi Rio Vermelho e Teatro Gregório de Mattos. Estrelado por Cícero Locijá e Rapha Gouveia, com a chegada à Sala do Coro o espetáculo ganha novos elementos: música original composta por Ray Gouveia, indicado ao prêmio Braskem em 2023 pela Direção Musical de “Flor de Julho”, figurino assinado por Thiago Arreinha e preparação de elenco conduzida por Daniela Botero.
“Como o espetáculo quer falar sobre a atualidade, em uma visão de como pessoas e casais LGBTQIAPN+ sobrevivem dentro de uma sociedade heteronormativa e LGBTfóbica, tivemos que fazer certas adaptações no texto para que tudo fizesse sentido e ficasse claro neste momento. O texto foi escrito em 2021, então muita coisa já aconteceu. Tivemos mudança de governo, levantamos debates na câmara sobre políticas públicas, então o espetáculo vai se adaptando dentro desses contextos atuais”, explica Léo.
O ator sergipano Cícero Locijá, um dos protagonistas em “Jacinto Morto”, também vê no tempo de experiência do espetáculo uma das melhores novidades. “Eu acho que a peça ganha uma nova qualidade porque vai fazer um ano que estamos trabalhando nela, estudando esse texto, pesquisando os personagens e a cena. Isso traz mais maturidade e entendimento; tem coisas sobre o texto que a gente só vai percebendo depois de ler e reler várias vezes”, revela.
Identificação em cena
Interpretando Rafael, Cícero Locijá destaca como qualidades principais do personagem a coragem de confrontar as imposições sociais e afirma estar muito feliz em integrar o elenco de um texto que toca pessoalmente sua história:
“Para mim, estar em ‘Jacinto Morto’ é me sentir vivo, é manter viva uma discussão que não pode morrer, trazer humanidade para corpos que muitas vezes são desumanizados e mostrar o quanto afeta o psicológico das pessoas LGBT. Eu sou gay e revivi vários traumas no processo de ‘Jacinto’, mas foi como um processo de cura, levar isso para a cena e ser representatividade para outras pessoas, mostrar essa relação de dois homens e como ela é atravessada pelos preconceitos e questões enraizadas em nós mesmos desde a infância”, afirma Cícero.
Para Léo Crusoé, a recepção do espetáculo tem sido uma surpresa, principalmente por ter sido seu trabalho de estreia. “É uma coisa bem louca, sendo bem sincero. Sabe aquela brincadeira ‘acabou de chegar e tá sentando na janela’? A gente acabou de chegar e já temos essa oportunidade de estar na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. É muito gratificante para mim ter esse aval de pessoas que são da área e que estão me ajudando a construir uma carreira.” Motivado com os rumos de seu trabalho, o diretor escreveu e dirigiu na sequência de “Jacinto”, “Ibeji da Casa Grande” (2024), e revela já estar trabalhando em seu próximo espetáculo, que tem previsão para outubro.
[*] – Fonte: https://www.correio24horas.com.br/