Em junho, o Japão registrou um pico nos casos de síndrome do choque tóxico estreptocócico, uma infecção grave causada por uma bactéria potencialmente fatal chamada Streptococcus do grupo A. Esse é um microrganismo que vive naturalmente na pele de muitas pessoas, sem causar doenças. No entanto, ele pode ser transmitido para outros indivíduos por meio do contato com feridas infectadas ou por meio de gotículas da fala, espirro e tosse.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, as bactérias Streptococcus do grupo A podem causar diferentes tipos de infecções, que variam de leves a graves. As mais comuns são a erisipela, impetigo, escarlatina e infecção na garganta. Entre as doenças mais graves, estão a celulite infecciosa, a fasciíte necrosante e a síndrome do choque tóxico estreptocócico, que levou ao surto no Japão.
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“O Streptococcus do grupo A é uma bactéria que, normalmente, fica na pele das pessoas. Eventualmente, ela pode causar infecção, se aproveitando de alguma lesão ou baixa imunidade”, explica Alberto Chebabo, médico infectologista e Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, à CNN.
A infecção pela bactéria Streptococcus do grupo A pode ser fatal quando chega à corrente sanguínea. “Ela produz uma toxina que, ao atingir o sangue, pode levar a infecções generalizadas, como é o caso da síndrome do choque tóxico estreptocócico”, acrescenta o especialista.
As bactérias Streptococcus do grupo A são extremamente contagiosas. Apesar de algumas pessoas viverem com a bactéria na pele sem desenvolver doenças, elas podem infectar outras pessoas, principalmente em quem tem baixa imunidade ou em quem possui condições que são fatores de risco para a infecção.
Segundo o CDC, a transmissão ocorre por meio de gotículas respiratórias ou pelo contato direto com feridas infectadas na pele. Raramente, as bactérias são transmitidas por alimentos não manuseados adequadamente.
No caso de infecção na garganta, os sintomas relacionados à contaminação por Streptococcus do grupo A incluem dor na garganta, dor para engolir e febre. Em infecções de pele, como o impetigo, pode causar vermelhidão, inchaço, febre, formação de abcessos (excesso de pus), descamação e calor local.
Já em relação às infecções graves, podem surgir sentimentos como febre, queda de pressão, necrose (morte) da pele, descamação, formação de coleções de pus e, até mesmo, levar ao óbito.
“A síndrome do choque tóxico é a manifestação mais grave da infecção pelo Streptococcus do grupo A. Caracteriza-se por uma grave infecção de pele, na qual ocorre necrose de todas as camadas da pele, bem como de camadas mais profundas como o tecido celular subcutâneo e o músculo [fáscia]. Tal quadro pode evoluir em um terço dos casos para uma infecção generalizada, com queda da pressão, insuficiência de múltiplos órgãos e até a morte”, explica Vinicius Lacerda, cirurgião do aparelho digestivo, à CNN.
Além desses sintomas, a síndrome do choque tóxico pode causar sintomas gastrointestinais, como náuseas e vômitos. “Isso acontece muito pelo efeito da toxina causada pela bactéria no trato digestivo, bem como efeitos da má circulação causada pelo choque séptico decorrente da infecção generalizada”, esclarece.
A bactéria Streptococcus do grupo A também é conhecida como “devoradora de carne”. Segundo o especialista, esse sintoma está relacionado à fasciíte necrosante, uma das infecções causadas pela bactéria. Com o avanço da infecção, podem surgir bolhas, úlceras e manchas pretas, levando à necrose (morte) da pele.
“Ela recebe esse nome [devoradora de carne] por produzir uma toxina chamada NDAse que é uma enzima com o poder de destruir as células do seu hospedeiro, causando assim a necrose do tecido”, explica Lacerda.
De acordo com o CDC, infecções virais, como gripe ou varicela, podem aumentar o risco de contrair uma infecção grave pela Streptococcus do grupo A. Além disso, pessoas imunossuprimidas, com câncer, doença cardíaca, renal ou pulmonar crônica, diabetes ou doenças de pele apresentam maior risco para infecção grave.
Outro fator de risco importante é o uso prolongado de absorventes internos, segundo Chebabo. “O uso prolongado pode levar a uma proliferação grande da bactéria, podendo causar a síndrome de choque tóxico”, afirma.
Outros fatores que apresentam riscos de infecção grave por Streptococcus do grupo A incluem:
O tratamento das infecções por Streptococcus do grupo A inclui o uso de antibióticos e, geralmente, é feito em ambiente hospitalar com cuidados intensivos, principalmente nos casos de síndrome do choque tóxico, com suporte com drogas para manter a pressão arterial, uso de ventiladores e hemodiálise, conforme explica Lacerda.
“Nos casos de fasciíte necrotizante, é mandatório o debordamento cirúrgico, ou seja, a retirada total do tecido desvitalizado, podre, acometido pela bactéria”, completa.
De acordo com Chebabo, a prevenção da infecção por Streptococcus do grupo A é feita prevenindo os fatores de risco associados à contaminação. “Evitar e tratar lesões na pele e micoses é uma forma de prevenção, já que elas podem ser porta de entrada dessa bactéria, principalmente em pessoas com a imunidade comprometida e dentro do grupo de risco”, afirma o especialista.
Além disso, o CDC orienta que a prevenção dos Streptococcus do grupo A se concentra em três objetivos: limitar a exposição e propagação de bactérias; tratar as infecções imediatamente, e usar antibióticos preventivos, quando necessário.
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[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/