Você deixaria uma IA escolher seu(sua) namorado(a)?

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Já estamos acostumados com a tecnologia mediando todos os aspectos da vida. Hoje, poderíamos dizer que dentro da tecnologia, a inteligência artificial (IA) está assumindo um papel realmente transformador em todas as áreas, de forma acelerada e sem retorno. No meio de tudo, a construção de relacionamentos amorosos não poderia ficar de fora.

Logo de início, muita gente pode já imaginar isso ser um absurdo, coisa de pessoa estranha e sozinha. Mas, na verdade, não. Já faz bastante tempo que temos usado as tecnologias digitais para nos ajudar a encontrar nossa cara metade. Basta lembrar dos aplicativos de namoro.

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Antes de chegarmos na era da mobilidade, existiam as plataformas e sites de relacionamento. Quem não se lembra do Match.com, que surgiu no final dos anos 90 e tinha propaganda em revistas de avião. No início, a mecânica era bastante simples: por meio de informações básicas, o algoritmo combinava os usuários com base em interesses e preferências que foram compartilhados.

Avançando para o presente, a paisagem de hoje é bem diferente. O Tinder, aplicativo que revolucionou o jogo da conquista, introduziu a mecânica de deslizar para curtir ou não, além do “deu match”, criando uma nova cultura da paquera, mais que do namoro e busca do amor da sua vida.

O aplicativo conseguiu substituir boa parte do flerte cara a cara, com trocas de olhares, palavras ao pé do ouvido por escolhas algorítmicas e a nossa ação de deslizar o dedo e dar conta de engatar uma conversa. O que, em 2012, era uma novidade, hoje se tornou um elemento básico nos approaches dos relacionamentos contemporâneos.

Agora, mais de dez anos depois, vemos que a mediação de nossas relações por tecnologia virou padrão, e abriu espaço para uma interação mais direta com a tecnologia, principalmente a IA.

Apesar dos aplicativos de namoro tradicionais usarem algoritmos para combinar usuários com base em perfis estáticos, a integração da IA ​​dá um passo adiante, evoluindo o “match” e muitas vezes tomando os lugares que antes eram de humanos.

Pra gente entender melhor esse nosso novo universo dos relacionamentos com IA, vamos fazer uma separação do texto. A primeira parte vai tratar de como a inteligência artificial pode nos ajudar na hora do match e, depois, entender como esse match agora está sendo com uma IA.

A IA era bastante usada em diversos algoritmos que já controlavam a nossa vida, muito antes da explosão do ChatGPT, em 2022.

Nos apps de namoro, esses algoritmos de aprendizado de máquina já analisavam o comportamento do usuário, aprendendo com cada deslizada, curtida e mensagem, tudo para adaptar as correspondências às preferências individuais. Isso permitia que os aplicativos de namoro antecipassem nossas preferências, aumentando a probabilidade dos matches.

Hoje, a IA está sendo usada para além disso, iniciando uma nova fase que promete conexões mais personalizadas e melhorar experiências românticas, remodelando as interações sociais (além de remodelar a forma como amamos).

Com assistentes virtuais e chatbots capazes de simular interações humanas, a IA tem atuado como uma espécie de “cupido inteligente” de duas formas: primeiro, para melhorar ainda mais nossas buscas e, depois, para o início do flerte.

Segundo o sociólogo Elyakim Kislev, “as tecnologias estão deixando de ser ferramentas para controlar o ambiente e o trabalho e se transformando em um ecossistema em si”. Em tempos de IA, com esses “relacionamentos 5.0”, como ele mesmo intitula, boa parte das nossas interações passam a ser não só mediadas pela máquina, mas também com as máquinas.

E assim como acontece em outras áreas, a IA traz mais eficiência e produtividade. No mundo do namoro, agilizando a busca pelo amor, adaptado às preferências de cada um.

Esses algoritmos turbinados poderiam analisar mais profundamente os dados do usuário – interesses, comportamentos, preferências, personalidade e estilo de vida – para sugerir possíveis correspondências com maior probabilidade de compatibilidade, encurtando o longo caminho da busca.

Tem aplicativo usando até dados biométricos, como o SciMatch, que escaneia seu rosto para achar match. Outros apps, como o Iris e o Aimm também usam a IA para encontrar casais em potencial, de acordo com a compatibilidade.

No Iris, os usuários passam por uma espécie de treinamento, em que são mostrados rostos de pessoas, reais ou geradas por AI, e o usuário vai decidindo se gosta ou não. Com essas informações, o app aprende o tipo físico que o atrai e, em seguida, oferece apenas combinações potenciais com alta chance de atração mútua e menores chances de rejeição. Já o Aimm usa um assistente virtual para realizar avaliações de personalidade antes do match.

Mas uma das ideias que mais causaram recentemente foi como a IA poderia aprimorar o pós-match. Poderíamos delegar essa parte das conversas iniciais, que geralmente causam mais exaustão, para nosso “concierge”.

Esse foi o termo utilizado pela fundadora do Bumble, Whitney Wolfe Herd, em uma entrevista para a Bloomberg. Segundo ela, “se você quiser realmente sair por aí, existe um mundo onde seu concierge de namoro pode sair para você com outros concierges de namoro”, para testar, antes dos humanos, se o relacionamento poderia dar certo, podendo encontrar o par ideal.

Ao invés de iniciar centenas de conversas, dar conta de algumas dezenas, para, quem sabe, marcar um encontro, o concierge poderia examinar todos os matches e dizer “estas são as três pessoas que você realmente deveria conhecer”.

Agora, imaginem o benefício que isso pode trazer para pessoas que são mais introvertidas e que têm dificuldade até em conversas online. O concierge poderia quebrar o gelo inicial e, ao mesmo tempo, manter a intimidade na conversa e estabelecer uma conexão para um futuro encontro.

Essa automação do flerte virtual poderia, também, ajudar nas conversas, caso você queira encarar essa parte. Ao invés de terceirizar totalmente para o concierge, a IA poderia ajudar na escrita de mensagens, principalmente em como expressar os sentimentos e desejos.

Tomando como exemplo o ChatGPT e outros modelos de texto, estamos percebendo que a IA que interage conosco pode ajudar a treinar a nossa comunicação, quer seja pra interagir com ela e obter as respostas (e serem usadas diretamente), como também para melhorar as nossas respostas.

Se a comunicação é uma das principais bases dos relacionamentos românticos, a IA pode se tornar um recurso importante para melhorar esse aspecto.

Aplicativos como o Replika e My AI Friend, que oferecem bots de bate-papo com IA, ajudam, de certa forma, a desenvolver uma comunicação mais efetiva, afetiva e expressiva. Isso certamente pode também melhorar os relacionamentos que já temos.

A IA pode, em última instância, ajudar a normalizar a automação e conteúdos gerados artificialmente, liberando as pessoas de horas deslizando o dedo para um lado e para outro, assim como de escrever mil mensagens introdutórias, muitas vezes, não correspondidas. Isso pode trazer mais frescor e energia para nos concentrarmos no que interessa, que é a relação com outro humano.

Na segunda parte do texto, vamos entender como o match agora pode ser com uma IA.

Aplicativos usam Inteligência Artificial para usuários darem match

 

[*] – Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/